A MULHER QUE GOSTAVA DE LIVROS
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A MULHER QUE GOSTAVA DE LIVROS


.Nunca teve muita paciência para aturar as conversas das colegas, tinha mais que fazer que estar a falar da vida alheia. Gostava de sair, ai se gostava, mas as suas debandadas cingiam-se às compras do dia a dia. Para além disso satisfazia-se com uma passagem rápida pela pastelaria, onde uma bica bem quentinha lhe reforçava o ânimo. Às vezes concedia dois dedos de conversa à D. Fátima, que lhe contava as últimas novidades, e ala para casa, que a vida não se arranja no paleio.
Dentro de paredes era Maria que fazia e desfazia, e o marido há muito se resignara a tal facto. Conhecia bem a determinação e a energia da mulher, e não adiantava lutar contra tais armas. No fundo admirava aquela força da natureza, que delineava o contorno das suas vidas de forma implacável.
Os filhos conheciam-lhe bem a voz de comando, e foi-os instruindo no caminho do trabalho e do esforço. O percurso deles foi-lhe mostrando que tinha razão.
Do dinheiro do orçamento familiar, rigorosamente gerido, apenas se lhe conhecia uma extravagância: comprar um livro de vez em quando. Lia-o à noite, depois da lida da casa, e o marido nem sempre entendia aquela bizarria. Era a única altura do dia em que a via longe dali, como se a sua realidade controlada, por momentos, não existisse.
Mas os anos já iam pesando, apesar de continuar mexida e desembaraçada. Com os filhos em casa própria, começou a ter mais tempo para si, e a dar largas ao seu gosto pelos livros. Lia, lia muito...
O neto começou a frequentar a casa, adoçando-lhe os dias, fazendo cócegas àquela capa de austeridade. O companheiro, porém, via-lhe nos olhos uma espécie de insatisfação. Bem tentava sondar, mas um seco "não se passa nada" cortava toda e qualquer inquirição.
Uma manhã o marido saiu cedo. Maria, habituada ao seu rosto tranquilo e resignado, notou-lhe uma determinação pouco habitual, mas encolheu os ombros. Retomou a leitura de "Veneza", de Jan Morris, e não pensou mais no assunto.
Depois do almoço, após arrumar a cozinha, voltou para a sua leitura. Ajeitou a almofada, sentou-se, e esboçou o gesto maquinal de pegar no livro. Só então reparou no invólucro, com o logotipo de uma agência de viagens, deixado em cima da capa do livro. O marido olhava, num misto de apreensão e ansiedade. Mas, quando lhe viu o brilho de satisfação ao ler a palavra Veneza, percebeu que tinha acertado em cheio.





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