Textos e Mensagens
ACERCA DOS HUMORES DO VENTO
.Hélio Cunha, Premonição da Morte de Ícaro ...O velho esperava-o junto da fogueira. Saudou-o, respeitosamente, e aguardou que o mandasse sentar. Quando o ancião lhe fez um leve sinal, clareou a voz e, entre algumas hesitações, acabou por lhe falar da preocupação que sentia com o respirar do mundo.
O olhar do ancião manteve-se inalterável. Dobrou-se um pouco, ajeitou os paus do lume e, tranquilamente, as palavras começaram a brotar.
- Múltiplas facetas tem o vento. Delas todos sabemos, dele se teceram loas e memórias, mas guardou-se o baú a sete chaves.
Fez uma pequena pausa e prosseguiu.
- Quando o vento, insinuante, teima em acariciar-nos a pele, a princípio conjecturamos, mas acabamos por nos render. Aparentemente passou a ser nosso, e os afagos, com pouco esforço, parecem não ter limite. Mas, em plena festança, ele surge, rugindo, a cobrar pela lisonja.
Um pau rebelde soltou-se da fogueira numa erupção de fagulhas. O ancião, com gestos tranquilos, colocou-o no lugar. E prosseguiu.
- A lição de Constantinopla há muito ficou esquecida. Hoje os anjos têm sexo, mas o vento continua sem rosto. E ri-se, à gargalhada, de D. Quixote.
As palavras, pausadas, ecoavam no vale como se dele fizessem parte. O aprendiz, aturdido com o ardor do fumo, esforçava-se por lhes sentir o voo, mas faltava-lhe a abrangência.
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Loucura
havia um redemoínho de vento ela parecia tonta cara aberta olhos arregalados dançava com a poeira e o vento com gestos largos descompostos gemia cantarolava as saias levantavam desgarradas os braços agitavam-se imploravam em direcções indefenidas...
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Um Lugar Português
planalto agreste desolado frio e vento vertendo serranias um sopro de lonjura vindo de Castela uma lonjura imensa entre a minha aldeia e o mundo nasce-se e morre-se e pouca gente dá conta faz-me pensar um lugar assim que quem nasceu nele e o viu seco...
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Os Meninos, A Bola E O CÃo
. Hélio Cunha, Trois petits enfants et leur chien.. A bolaQue rebolaFicou farta de rebolarNum momentoSente o ventoE começa a desafiarO vento passaLá vai a bolaQuem a vai encontrarNão sou euNão és tuQuem nos vem ajudarLá vai o cãoA ladrarAs voltas...
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Eclipse
.Hélio Cunha, Eclipse . . . Sente-se a inquietação que devasta o respirar de vales e montanhas, perturbando buscas de equilíbrio há muito escritas no livro dos assentos. Socorro-me das memórias do vento, e este sopra-me, como se houvesse forma definitiva,...
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O Despertar Das Palavras
.Pormenor de tela de Margarida Cepêda. . . Pudesse o poeta aquietar alguns ventos, amainar certas marés, e talvez o constante desassossego encontrasse vazão para o seu eco. Mas os ventos e as marés não o ouvem, apenas o encantam. De quando em vez,...
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