ACERCA DOS HUMORES DO VENTO
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ACERCA DOS HUMORES DO VENTO


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Hélio Cunha, Premonição da Morte de Ícaro
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O velho esperava-o junto da fogueira. Saudou-o, respeitosamente, e aguardou que o mandasse sentar. Quando o ancião lhe fez um leve sinal,  clareou a voz e, entre algumas hesitações, acabou por lhe falar da preocupação que sentia com o respirar do mundo.
O olhar do ancião manteve-se inalterável. Dobrou-se um pouco, ajeitou os paus do lume e, tranquilamente, as palavras começaram a brotar.
- Múltiplas facetas tem o vento. Delas todos sabemos, dele se teceram loas e memórias, mas guardou-se o baú a sete chaves.
Fez uma pequena pausa e prosseguiu.
- Quando o vento, insinuante, teima em acariciar-nos a pele, a princípio conjecturamos, mas acabamos por nos render. Aparentemente passou a ser nosso, e os afagos, com pouco esforço, parecem não ter limite. Mas, em plena festança, ele surge, rugindo, a cobrar pela lisonja.
Um pau rebelde soltou-se da fogueira numa erupção de fagulhas. O ancião, com gestos tranquilos, colocou-o no lugar. E prosseguiu.
- A lição de Constantinopla há muito ficou esquecida. Hoje os anjos têm sexo, mas o vento continua sem rosto. E ri-se, à gargalhada, de D. Quixote.
As palavras, pausadas, ecoavam no vale como se dele fizessem parte. O aprendiz, aturdido com o ardor do fumo, esforçava-se por lhes sentir o voo, mas faltava-lhe a abrangência.
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