Nós Odiamos os Professores
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Nós Odiamos os Professores



(Este artigo foi publicado há alguns meses na revista "A Hora". Porém, tendo em vista a recente campanha do Cpers e outros sindicatos contra o governo Yeda, a qual foi mal vista pela sociedade, decidi publicá-lo agora, na íntegra, aqui no blog)

É. Odiamos. E eu já havia dito isso em outro artigo aqui na “A Hora”, mas agora vou comentar um pouco mais, afinal, sempre vale a pena louvar a cultura de nosso país, ou a ausência dela.

Lendo o jornal “Correio do Povo”, deparei-me com a notícia de que os pais apóiam as medidas do governo gaúcho relativas à enturmação, fechamento de escolas e outros descalabros. Eu sei por que eles apóiam: eles não dão aulas. Eu fico boquiaberto quando vejo como a sociedade brasileira quase sempre se posiciona contra os professores. É como se fossem os professores os culpados pelo estado lastimável, decadente, absurdo em que se encontra a educação pública de ensino básico no Brasil. Os alunos? Desinteressados, vulgares, incultos, violentos, à beira da imbecilidade. Os professores? Vergonhosamente mal pagos, desestimulados, tendo que suportar o desrespeito e a violência dos alunos, o clima de hostilidade e autoritarismo dos governos, a incompreensão e arrogância dos pais, enfim, o ódio de toda uma sociedade. E em cada governo que entra, o lema para a educação é sempre o mesmo: “Senhores professores: calem a boca, trabalhem mais, ganhem menos, e tenham turmas piores. E quem reclamar fica de castigo.” Esse é sempre o “jeito novo” de todos governarem.

Os pais são antes de tudo uns ingratos. Não educam em casa seus filhos e querem que os professores eduquem. E se o professor não o faz, ficam enfurecidos, jogando para os mestres a responsabilidade que é deles. Tudo vai contra o professor: salários, governos, alunos, pais, sociedade e até mesmo as leis. Sim, o mestre, devido ao estatuto degenerado da criança e do adolescente, não pode fazer nada para frear a indisciplina do aluno. Qualquer ato na tentativa de estabelecer a ordem na sala de aula pode ser visto como um atentado a esse estatuto idiota. A indisciplina do aluno, para não dizer bestialidade muitas vezes, tem o amparo da lei.

O aluno pode tudo. Confundiu-se liberdade com libertinagem. E depois ainda se questionam sobre o porquê de estar tão alta a criminalidade no Brasil. Os professores podem dar a resposta: é que as escolas estão cheias de marginais, vieram assim de suas casas. Ser professor é profissão de risco, mas não se ganha insalubridade. No entanto, mesmo estando dentro do inferno de uma sala de aula onde não há ordem nem respeito, o professor é obrigado a educar alegre e contente todos os alunos (que não querem ser educados) e a conhecer não só a sua disciplina, mas também ser um pouco de todas as outras profissões. Eu sugeriria também que os professores fossem um pouco policiais e prendessem alguns marginais que estão nas escolas. Ah, e que fossem com coletes à prova de balas, capacetes, escudos e outros instrumentos de defesa.

Mas não bastam essas barbaridades, agora é vez da enturmação. É inacreditável que aqueles que fazem as diretrizes educacionais creiam que é possível no Brasil ministrar-se aulas de boa qualidade para 50 alunos no Ensino Médio. Qualquer professor sabe que dar aulas para 30 alunos numa escola pública nos dias de hoje já é dificílimo, o que dizer então de 50?!! E os pais apóiam! E que o professor se dane. É por isso que eu amo o Brasil. Que cultura magnífica a nossa: odiar professores. Isso já faz parte de nosso inconsciente coletivo. Desde pequeninos somos educados a odiar educadores. Claro, sempre há os professores carrascos e incompetentes, como ocorre com outros profissionais, mas só os mestres não merecem perdão: deve-se odiar todos eles.

Deve-se odiá-los porque só a educação pode realmente desenvolver o Brasil, tirá-lo da miséria social, do vergonhoso atraso cultural, da decadência psíquica que se alastra em nossa população. Mas quem quer que isso aconteça? Não, o povo não quer. Nem os governos, que são o reflexo do povo. O brasileiro é acomodado sim. Não venham com essas patriotadas hipócritas de que o brasileiro é um povo lutador e inconformado. É coisa nenhuma! Brasileiro gosta da cultura do “como está, está bom”. “Big Brother não presta? Não, mas deixa assim que está bom.” Ter cultura de verdade? Pra quê? Se grande parte de nossos jovens hoje quer ser traficante de drogas? Além disso, pra se ouvir funk, não se precisa de cultura. Cultura só atrapalha. Então, morte aos mestres!

E assim caminha o Brasil, rebolando funk. É, o negócio é sacudir a bunda, porque na cabeça não há nada. Aonde vamos? Alunos, completem a atividade: vamos à ......... .... .......! Por favor, não me odeiem por causa disso.

Até aqui o artigo. Percebam, amigos leitores, que na época a polêmica era a questão da enturmação. Depois disso, quantas outras agressões contra o magistério promoveu o governo Yeda? A começar pelo decisão ferrenha e criminosa, uma vez que vai contra uma lei federal, de não pagar os míseros 950,00 para os profissionais responsáveis pela base de qualquer nação. Ainda quer acabar com a democracia nas escolas impedindo a eleição de diretores. Recusa-se a negociar com os professores. Cortou o ponto dos grevistas do magistério, sendo que o mesmo não fez com o de outros profissionais que também fizeram greve no mesmo período, muito embora os professores sejam obrigados a recuperar os dias parados. Ou seja, devem trabalhar de graça.
Ainda fez de palhaço o povo gaúcho, afirmando, a governadora, que não tem dinheiro para nada, que tem que cortar verbas da educação, da saúde, da segurança, mas, paradoxalmente, não falta dinheiro para aumentar seu próprio salário e para adquirir um jato de 26 milhões de doláres para suas viagens.

Ufa, acho que chega! Ou querem mais? Tudo bem. Sinto dizer que o tão propalado déficit zero é uma falácia. O RS ainda deve muito dinheiro...



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