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O Paulo Leminski, que é um Cachorro Louco
Já disse que o Leminski é um dos meus poetas pós-modernistas brasileiros preferidos. Mas não custa repetir. É. Talvez seja O preferido. Sua poesia é leve e pesada ao mesmo, no sentido de ser agradabilíssima de se ler, de uma inteligência e criatividade ímpares, sutilmente irônica, sem deixar de lado a força emocional, a sua intensa veia trágica. Por isso, deixo aqui alguns dos poemas do "cachorro louco", como ele mesmo já se definiu, para compartilhar com os leitores. Todos os poemas são de seu livro "Caprichos e Relaxos".
Quem nasce com coração?
Quem nasce com coração?
Coração tem que ser feito.
Já tenho uma porção
Me infernando o peito.
Com isso ninguém nasça.
Coração é coisa rara,
Coisa que a gente acha
E é melhor encher a cara.
minhas 7 quedasminha primeira queda
não abriu o pára-quedas
daí passei feito uma pedra
pra minha segunda queda
da segunda à terceira queda
foi um pulo que é uma seda
nisso uma quinta queda
pega a quarta e arremeda
na sexta continuei caindo
agora com licença
mais um abismo vem vindo
quem me dera um abutre
quem me dera um abutre
pra devorar meu coração!
naco de carne crua
comida de pé no balcão!
quem me dera um apache
pra colher meu escalpo!
que desta vez não escape
nenhum disfarce!
tomara que um furacão
caia sobre meu navio!
que nenhum deus nem dragão
possa ser meu alívio!
tenho andado fraco
tenho andado fraco
levanto a mão
é uma mão de macaco
tenho andado só
lembrando que sou pó
tenho andado tanto
diabo querendo ser santo
tenho andado cheio
o copo pelo meio
tenho andado sem pai
yo no creo en caminos
pero que los hay
hay
em matéria
em matéria
de tino
menino
eu tenho dez
quiser
tenho até
um destino
a meus pés
Paulo Leminski
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