Ribatejana bonita
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Ribatejana bonita



Rosto lisinho doce
um embalo de bebé cheirando a vida
luz do sol espelhada em seara loira
clareira dos meus olhos
fonte apetecida
onde se bebia água néctar mel açúcar
vinho

onde misturadas
caberiam flores bravias selvagens
dispersas agrestes
de todas as cores
um fio de rio
um sabor a férias a calor
a Estio

onde posso imaginar o prato encantado
dos meus anos
longínquo
mas nascente

bitoque em loiça de barro
carne fresca ardendo
por debaixo de um ovo estrelado
enfeitado de batatas fritas
estaladiças
espicaçando o nervo
do estudante de Coimbra

novato
inexperiente curioso tosco
incipiente
recém-chegado

já sabia muita coisa ali

que o mundo era enorme
bem maior que a terra onde nasci
que tinha prados vinhas e outeiros
que os caminhos subiam e desciam
e iam sempre dar a qualquer lado
que se andava de burro a pé
que havia trem
que havia ricos outros sem vintém

sabia também
que o longe ficava
para além do meu país
mas eram poucos os anos
dispersa a mente
muitos os receios
com tantos livros exercícios e exames

não sabia então
vir um dia a haver família
haver chiado haver Lisboa
concursos de beleza passerelles
um mundo de anos de permeio
empregos confusão
política greves
guerras
revolução

internet telemóveis dvds
hi5 twitter facebook
um mundo complexo em explosão
perdido achado disperso
real virtual
incerto

para só então te conhecer a ti

lezíria quente de papoilas
céu de Lisboa
um rio grande que te trouxe aqui
linda gaiata apetecida
rosto lisinho doce
um embalo de bebé cheirando a vida



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