VISLUMBRE
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VISLUMBRE


.Margarida Cepêda, O Rei e o Cavalo
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Em pequeno encantara-se com a história de Sebastião, o rei menino, que se perdera nas areias do deserto em busca de uma quimera. Mas, ao contrário dele, a sua visão não passava pelo alargamento de fronteiras em detrimento de outros. Sonhava um reino, sim, mas um reino sem reis, um espaço abrangente onde houvesse lugar para a reinvenção da vida.
No velho edifício caduco, em ruína iminente, os funcionários mantinham a porta aberta num dissimulado faz de conta, tentando retardar o anúncio da derrocada. Geriam a crise por etapas, em que a próxima significava sempre o descer de mais um degrau.
Talvez fosse melhor assim, a maioria das pessoas não estava preparada para saber a verdade. Sentiam-lhe os contornos, mas não queriam encará-la. Mais tarde ou mais cedo o edifício ruiria, e o desespero e a rapina seriam condição natural. Era por isso que tentava ver por entre as frestas das armadilhas dos senhores do mundo, de que todos sentiam o peso sem rosto, em busca de um vislumbre de possíveis clareiras. O pesadelo era inevitável, mas também sabia que muitas vezes era no infortúnio que se forjava o que de melhor há nos homens. As flores acabariam por germinar.
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