A Doença da Luz (ou O Relato de Carlos Walter Mann) - Cap. III
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A Doença da Luz (ou O Relato de Carlos Walter Mann) - Cap. III


22 de junho de 2024 - Estávamos completamente isolados. Após ter matado aquele louco que se acercou da carroça, vi apenas mais dois humanos, ambos igualmente enlouquecidos. Também necessitei matá-los. O primeiro deles tentou se aproximar de Carolina enquanto ela tirava água de nosso poço artesiano. O segundo, encontrei no campo quando fui visitar nosso vizinho mais próximo, que ficava a cerca de 4 km. Tentou atacar-me com um machado. Acertei uma bala em seu peito e prossegui rumo a meus vizinhos. Não havia ninguém vivo por lá. Os cadáveres de Antônio, sua esposa e seus filhos jaziam apodrecidos no pátio. Apenas pus na carroça seus estoques de querosene e gás, assim como as velas que encontrei, e voltei para casa. Nessa tarde, reforcei drasticamente a segurança de portas e janelas.

Durante a escura noite, não consegui dormir. Apesar de estarmos no princípio do inverno, o calor era insuportável. E já fazia cerca de uma semana que, durante estas noites densas e abafadas, eu ouvia ao longe gritos horríveis, dificilmente conseguiria descrevê-los, eram como urros, grunhidos, pios, gemidos, enfim, toda espécie de som aterrador. Eu não saberia dizer se eram de homens ou animais, ou de algum ser monstruoso. Naquela altura, em meio a tantas aberrações, eu tenebrosamente imaginava o que poderia ser aquilo e comentava com Carolina as idéias terrificantes que surgiam a minha mente, enquanto um gélido arrepio percorria nossas almas... Porém, naquela noite tudo parecia ainda mais intenso e perturbador, o calor, o clima físico e psicológico de opressão, os sons infernais da noite... Foi então que percebemos que se formava uma tempestade, uma absurda tempestade...

A tormenta formou-se numa velocidade vertiginosa e assustadora. De uma hora para outra, violentas rajadas de vento surgiram dos céus congestionados, nossa casa parecia que seria derrubada em questão de minutos. Trovões atordoantes massacravam os céus, e dantescos relâmpagos como eu jamais vira bombardeavam os campos até onde a vista alcançava. A eletricidade que o homem não mais podia produzir estava ali devastando horizontes. Eram raios gigantescos, grotescamente ramificados, cruzando-se incessantemente por entre a pesada chuva. Víamos árvores serem atingidas, e um dos raios caiu em nosso pomar. A fúria do vento varria as extensões diante de nossos olhares aterrorizados. Havia algo de errado, de anômalo naquela tormenta, principalmente em seus raios. Eles eram doentios, imensos em demasia, suas ramificações ominosas e a freqüência com que surgiam nos céus eram completamente anormais.

Durante aproximadamente uma hora, mal conseguíamos respirar de tanto medo e apreensão. Impossível expressar nossa sensação de alívio quando a tormenta cessou de forma tão súbita quanto iniciara. Nossa casa estava intacta. Porém, algumas árvores do pomar foram derrubadas e perdemos praticamente todas nossas plantações de legumes e verduras.

(Continua...)




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