A SUSTENTÁVEL LEVEZA DAS MANHÃS DE SÁBADO
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A SUSTENTÁVEL LEVEZA DAS MANHÃS DE SÁBADO


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Fotografia de AC
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Gosto das manhãs de sábado. 
A água para o café aquece um pouco mais tarde que o costume, como que a dar espaço a que a harmonia se instale. Lá fora, imune a estéreis transcendências, a passarada dá largas à conformidade dos dias, trauteando ancestrais melodias. Por ali não há angústias de mercado, as coisas são o que sempre foram.
Saio. Nas árvores, obedecendo a sábias determinações, já se foram as cerejas. Os pêssegos e as ameixas estão quase no ponto, e as pêras, as maçãs e os figos, moldados com outro vagar, prosseguem a sua maturação. Maior é o sono de castanhas e amêndoas, que só nos matizados outonais ganharão carta de alforria. Neste desabrochar de vida não há pressas. Cores, aromas e sabores têm a sua química muito própria.
Debruço o olhar sobre as couves, os pimentos, as cebolas, a salsa, os tomates, as alfaces, as beringelas... Enquanto verifico o crescimento, pequeno milagre de todas as horas, recordo ensinamentos de avós, travestidos em memórias - olha, filho, a horta quer ver o dono todos os dias - e prossigo na comunhão. Fixo-me nas daninhas e retiro uma erva, duas, três... Parecem tantas que, no mergulhar da tarefa, o tempo deixa de contar. Mondar a horta, tal como a vida, requer paciência, tacto e uma óbvia visão de fundo: não há recompensa sem esforço. E os frutos, mais que promessa, começam a ser dádiva.
A Pretinha, uma schnauzer gigante de incondicional cumplicidade, acompanha-me no passeio. Caminha quando eu caminho, senta-se quando algo merece a minha atenção. E uma festinha naquela cabeça atenta nunca é de mais.
Um casal de andorinhas, contrariando ideias feitas - estamos em Julho, longe dos cânones de Março - insiste em fazer ninho no alpendre. Nunca é tarde para reformular, nunca é tarde para amar.
O sol começa a morder, a sombra começa a tentar. E, de bom grado, acabo por ceder.
Nas manhãs de sábado, enredado na magia das pequenas coisas, os dias domam as feras e insinuam plenitude.
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- Carpe Diem
. Fotografia de AC. . Todos os dias, depois de jantar, gosto de ir até às traseiras da casa, onde se esboça o caminho para a horta, para as árvores de fruto e para a imensidão de plantas silvestres, estrategicamente deixadas a salvo de humanas investidas....

- Piscar De Olho - 2
. Margarida Cepêda, Catedral Verde . . . A nespereira sentia-se abandonada. Exibia a promessa de futuros frutos mas, apesar do seu esforço, a terra em volta continuava por cavar. E amuava.Hoje a nespereira entrou em festa. Toda a terra circundante...

- Seivas De Abril
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- O Sabor Das Coisas
.Imagem tirada da Net. . . A vida é percurso imprevisível, nunca se sabe o que está para lá da próxima curva. Planificar e organizar ajuda muito, mas não basta. Há sempre factores que nos ultrapassam e que, quando se manifestam, têm o condão...

- As Pequenas Grandes Coisas
.. . Passamos meia vida em busca da receita para que a harmonia faça parte do nosso respirar, mas a verdade é que, sem nos darmos conta, as pequenas coisas têm um peso considerável na determinação da nossa disposição. À laia de exemplo, ainda...



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