Textos e Mensagens
SEIVAS DE ABRIL
.Aguarela de Ana Pintura
.. Os cuidados com as árvores começaram mais cedo. Fizera uma ou outra enxertia, cavara, estrumara, podara.
Entretanto, cansada de jogar às escondidas, a primavera assomara, começara a sorrir, abrindo portas à grande azáfama na horta. Com a compostagem no ponto, feita com as plantas da época anterior, em estágio invernio, delineava-se o melhor local para as diversas plantações. Na terra já havia couves, alhos, morangueiros, favas e ervilhas, mas o grosso da horta estava por fazer. E, com o tempo, isso tornara-se um ritual. As passadas sucediam-se, de cá para lá, de lá para cá, mas a dúvida era companheira frequente. Aqui as cebolas, depois as alfaces, os tomateiros, os feijoeiros. Talvez a seguir as plantas aromáticas, pensou, são inibidoras das pragas, depois as beringelas, os pepinos e os pimentos. Mas ainda faltavam as abóboras, os melões, as beterrabas...
Os desenhos sucediam-se, queria conciliar a harmonia das plantas com a fluidez da colheita, mas muitas voltas havia por entender. A horta era uma descoberta constante, cada espécie requeria um especial cuidado, adequado à sua sensibilidade. Aconselhara-se com este e aquele, mas depressa intuíra que a cada cabeça, sua sentença. Parecia haver um princípio geral, é certo, mas quanto à essência de cada planta, só tentando, só sentindo. Se fórmulas houvesse, talvez a formada nas memórias do avô, atento observador dos astros e amigo da passarada, fosse a mais adequada: a horta gosta de pequenas delicadezas, de namorar, de ver o hortelão todos os dias.
Hoje, bem cedo, a horta viu-o chegar de rubro cravo na mão. Se tinha que conhecer a sua essência, também ela teria que conhecer a sua.
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