O ELOGIO DAS PAUSAS - II
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O ELOGIO DAS PAUSAS - II


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A terra, preparada há já alguns dias, aguardava pela sementeira das favas, das ervilhas e dos alhos, mas o tempo parecia não querer ajudar. Lembrou-se, eterna imagem, do constante olhar dos agricultores para os céus, cientes do capricho dos deuses no desenhar de cenários. 
As sementes, contudo, estavam a postos, a par da vontade. E, a despeito da ameaça cinzenta, os regos foram-se abrindo, as sementes foram-se alojando. Um ou outro pingo não desmoralizava, apenas fazia aumentar o ritmo. Desta vez não havia tempo para olhares circundantes, os sentidos cingiam-se à tarefa. Rego aberto, estrume, ervilhas. Tapar rego, com a terra com que se abria outro. Mais estrume, mais ervilhas. 
A cadência aumentava, estimulada pelos pingos soltos, anunciadores do que estava para vir. De vez em quando, com a indisposição dos avisos, era mesmo preciso parar. Até os pardais, sempre presentes, se ausentaram para poiso seguro. Eram o mais fiável sinal, a borrasca estava quase a chegar.
Nova pausa na chuva, o insistir na tarefa. A mesma cadência, o mesmo ritual, desta vez com as favas. Abre-se um rego, dois, três... Quando as sementes chegam ao fim, a chuva instala-se, de vez. Ainda se alisa um pouco a terra, mas não há tempo para mais. Com os alhos na mão, em modo de espera, há que correr, e bem, as ferramentas ficam para mais tarde. Apesar de, por vezes, se confundirem, sabia bem que perseverança não rimava com teimosia.
Já no alpendre, no ritual do descalçar das botas, chegam-lhe sinais de casa. A lareira, crepitante, é o cenário ideal para destilar sorrisos no balanço da azáfama.
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