O ELOGIO DAS PAUSAS
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O ELOGIO DAS PAUSAS


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A terra estava macia, fácil de revolver, piscando o olho à empreitada. O aprendiz, iludido pela aparente facilidade, foi cavando, cavando, enquanto enterrava as folhas, já desbotadas, caídas das muitas árvores que por ali havia. O último resquício outonal cumpria o seu ciclo no revigoramento da terra para próximas sementeiras.
Ao lado, a pedir atenção, as couves galegas continuavam pujantes. Uma ou outra lagarta, mais resistente ao frio, teimava em inquietá-las, mas já pouca mossa faziam. Eram as retardatárias, amantes de qualquer raio de sol, por mais breve, renegando a programada construção do casulo.
Os pardais, alheios ao esforço alheio, andavam por perto. Bicavam aqui, debicavam ali, pousando e levantando voo como se toda a terra fosse um imenso pardalporto. Duas das cerejeiras, ainda jovens, que serviam de poleiro a alguns deles, precisavam ser enxertadas, mas só para o fim do mês, talvez princípios do próximo.
A tarde avançava. Lá no alto, contrariando a lógica das estações, duas cegonhas planavam. O sol ameaçava esconder-se, com os últimos raios  a serem ofuscados com a entrada em cena de algumas nuvens cinzentas, anunciadoras de chuva, provavelmente para amanhã. 
O aprendiz, olhando para o castanho da terra, mira e remira o seu trabalho. Os olhos continuam a brilhar, perdidos naquela arquitectura tão simples, tão própria, quase como se fosse a primeira vez. Saciado, começa a colocar, alheio a pressas, a enxada e o ancinho no carrinho de mão e ruma, em tranquila cadência, para o abrigo das ferramentas.
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