Textos e Mensagens
O ELOGIO DAS PAUSAS
..A terra estava macia, fácil de revolver, piscando o olho à empreitada. O aprendiz, iludido pela aparente facilidade, foi cavando, cavando, enquanto enterrava as folhas, já desbotadas, caídas das muitas árvores que por ali havia. O último resquício outonal cumpria o seu ciclo no revigoramento da terra para próximas sementeiras.
Ao lado, a pedir atenção, as couves galegas continuavam pujantes. Uma ou outra lagarta, mais resistente ao frio, teimava em inquietá-las, mas já pouca mossa faziam. Eram as retardatárias, amantes de qualquer raio de sol, por mais breve, renegando a programada construção do casulo.
Os pardais, alheios ao esforço alheio, andavam por perto. Bicavam aqui, debicavam ali, pousando e levantando voo como se toda a terra fosse um imenso pardalporto. Duas das cerejeiras, ainda jovens, que serviam de poleiro a alguns deles, precisavam ser enxertadas, mas só para o fim do mês, talvez princípios do próximo.
A tarde avançava. Lá no alto, contrariando a lógica das estações, duas cegonhas planavam. O sol ameaçava esconder-se, com os últimos raios a serem ofuscados com a entrada em cena de algumas nuvens cinzentas, anunciadoras de chuva, provavelmente para amanhã.
O aprendiz, olhando para o castanho da terra, mira e remira o seu trabalho. Os olhos continuam a brilhar, perdidos naquela arquitectura tão simples, tão própria, quase como se fosse a primeira vez. Saciado, começa a colocar, alheio a pressas, a enxada e o ancinho no carrinho de mão e ruma, em tranquila cadência, para o abrigo das ferramentas.
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última Ilusão
Um dia de chuva e frio pode ser o fim do estio do sangue quente da emoção posta numa ilusão cada gota de chuva que tomba no meu corpo despido de folhas pode indiciar um encolher de braços um arrefecer da alma pode levar aquela ponta de loucura a desistir...
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O Elogio Das Pausas - Ii
. A terra, preparada há já alguns dias, aguardava pela sementeira das favas, das ervilhas e dos alhos, mas o tempo parecia não querer ajudar. Lembrou-se, eterna imagem, do constante olhar dos agricultores para os céus, cientes do capricho dos deuses...
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Piscar De Olho - 2
. Margarida Cepêda, Catedral Verde . . . A nespereira sentia-se abandonada. Exibia a promessa de futuros frutos mas, apesar do seu esforço, a terra em volta continuava por cavar. E amuava.Hoje a nespereira entrou em festa. Toda a terra circundante...
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A SustentÁvel Leveza Das ManhÃs De SÁbado
.Fotografia de AC...Gosto das manhãs de sábado. A água para o café aquece um pouco mais tarde que o costume, como que a dar espaço a que a harmonia se instale. Lá fora, imune a estéreis transcendências, a passarada dá largas à conformidade...
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SÁbado
.. . Depois de ter a cova pronta, pegou num pouco de adubo e colocou-o no fundo. Pôs-lhe uma camada de terra por cima, para não queimar as raízes da jovem árvore, outra camada de folhas secas, e só então, com todo o cuidado, colocou a pequena cerejeira...
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