.AC, Arte urbana, com reutilização de materiais, de Bordalo II
..A chuva retomara a sua cadência, de lentas vestes, tecidas em gotas anti-ressalto: onde caíam, ficavam.
Zé Lobo apertou o capote, ajeitou o chapéu e pôs-se a caminho. Sentia-se, a cada ano que passava, mais acossado, havia cada vez mais caminhos na serra. E vozes. Uns caminhavam, outros andavam de bicicleta, outros ainda, os mais temíveis, iam sugando, a pouco e pouco, a mancha de carvalhos e castinçais, substituindo-a por cerejeiras. As máquinas tornaram-se familiares por ali, trazendo toda a espécie de ruídos. E sempre com o olhar, cobiçoso, virado para cima, em busca de mais.
Zé Lobo começou a subir, por veredas quase imperceptíveis, em passo ligeiro. As velhas botas, companheiras de muitas andanças, mal se ouviam, tal a familiaridade com o meio. Mas já pouco lhe restava para andar, o espaço de que dispunha era cada vez mais curto.
Passou ao lado da Penha, cada vez mais acessível aos outros. Em baixo, no seu casario secular, Castelo Novo parecia um velho ao sol, a contar aos vindouros, já praticamente inexistentes, os tempos de dias mais prósperos. E, para apimentar a narrativa, rebuscavam-se na memória as histórias de encontros com lobos, no caminho da serra, que levava até Alpedrinha. Renunciou ao olhar e prosseguiu para os lados do Castelo Velho, onde já nem as pedras faziam jus às lendas, em direcção a S. Vicente da Beira. Para aquelas bandas ainda havia algum espaço para respirar, mas a merecer, cada vez mais, mil e um cuidados.
A chuva aquietara. Zé Lobo parou junto a um agigantado penedo de granito e sentou-se. Da bolsa de pano, que trazia a tiracolo, sacou do que restava do pão, que lhe deram no Souto da Casa, e dum naco de queijo. Enquanto comia, quase sem vontade, sentia que o seu tempo se esgotava. Já ninguém ouvia as suas histórias, contadas na taberna, ou em qualquer largo de aldeia, debaixo duma árvore, ao fim da tarde, a que costumava misturar ingredientes do outro mundo. Comia e bebia, nessas alturas, e ainda enchia o saco para levar consigo. Outros tempos.
Estava na hora de continuar, mas algo reteve Zé Lobo. Espraiou o olhar, de modo quase indefinido, pela paisagem circundante, que abrangia para lá de Monsanto, até à raia de Espanha, e deixou-se ficar. A noite, a longa noite, aguardava por ele para avivar, ainda mais, os seus fantasmas.
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o coelho sai tranquilo da toca e... de repente o lobo o abocanha o lobo vai tranquilo com o coelho e... de repente o pega a armadilha o caçador vai tranquilo com o lobo e... de repente o pica a serpente (...) e era um dia nublado chuvoso e... de repente...
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