Textos e Mensagens
O ILUSIONISTA
.Hieronymus Bosch, O Ilusionista
..As vestes, bem engomadas, eram complemento de gestos precisos, elegantes, que prendiam qualquer olhar. Na rua, num gabinete, ou em qualquer outro lugar onde palpitasse coração de gente. Aprendera que as pessoas, mesmo as supostamente mais sábias e poderosas, tinham sempre uma fenda, por mais discreta, à espera de algo que as surpreendesse, que as maravilhasse.
O homem, cata-vento, em roda viva, da sua própria ignorância, bem tenta camuflar a sua essência, mas, qual músculo involuntário, há sempre algo revelador das suas forças e fraquezas, da sua constante instabilidade. Quase sem se dar conta, é essa fragilidade que lhe mantém a chama viva para novos passos, novos olhares, novas atitudes. No fundo, depois de pisar, derrubar e reconstruir as pedras do caminho, o homem, na sua individualidade, mais não almeja que a redenção.
Alfredo pertencia a uma estirpe que se perdia na bruma dos tempos. Conhecedor das grandezas e misérias da espécie humana, mais não fazia que explorar a imperfeição de fortes e fracos, de ricos e pobres, de avarentos e filantropos, de cépticos e sonhadores. Em suma, alimentava-se da fraqueza dos outros, da capacidade em saber explorar a tal fenda, por onde, embora negados, de viva voz, até os milagres eram permitidos, quantas vezes desejados. Era por ali, no que de mais puro e ingénuo tinha o homem, que ele costumava investir.
Também Alfredo, contudo, tinha as suas fragilidades. E, à medida que o cheiro da fraqueza humana o ia inundando, de tanto a espremer, ia desenhando, cada vez com maior minúcia, cenários para a sua possível redenção. Talvez, quem sabe, conseguisse almejar a sua façanha mais gloriosa: iludir-se a si próprio.
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Para O Ser Desprezível (e A Todos Os Outros Como Ele) Que Matou A Pauladas Um Ser Divino (onça): Homem Fraco
O vídeo abaixo dispensa comentários. Envergonha toda a raça humana. Para desgraças como essas, tão comuns em nossos dias finais, dedico o poema a seguir, escrito em 2012 e reelaborado agora: Homem Fraco que mal se aguenta nos cascos quando...
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Saudade, O Destempo Do Tempo
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. Margarida Cepêda, Solo mineral para violino. . . Quando começaste a enfrentar a montanha, jovem potro em constante esquiva, ainda não domavas o vigor que te atravessava a pele. Tudo parecia eterna primavera.À medida que subias foste aprendendo...
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O Outro Lado Do Eu
.Victor Lages, O outro lado do eu . . . Enquanto dormitava, sentia o pensamento deslizar para lá de si, esgueirando-se das prateleiras onde estava arrumada uma infinidade de ideias por eclodir. Este, contudo, parecia ter vontade própria. Galgava, com...
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Caminho
.Henrique Matos, Destino Cosmos. . Forjara os sonhos em olhares, sensações e desejos, temperados com muito afecto.Tinha a convicção dos eleitos, e nada parecia esmorecer tamanha determinação. Às vezes choramingava, é verdade, mas depressa fazia...
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