Um poema dedicado ao 25 de Abril
Antes e depois
Dias longos nostalgia
espelhada em cada rosto português
uma amargura que ainda hoje se vê
nos filhos dos filhos daquele tempo
que na flor da idade
iam para a guerra longe
sem saberem bem para onde
nem para quê
o horizonte europeu fronteira de Castela
estava bem fechado
ninguém saía nem entrava
pides guardas fiscais carabineiros
cerravam bem fileiras
disparando sobre quaisquer aventureiros
num Portugal amordaçado
sem liberdade nem pão nem educação
país arcaico empobrecido analfabeto
que sem tostão nem ganha pão
clandestinamente emigrava
fugir era o sonho ficar o pesadelo
na nossa própria casa aprisionados
na nossa própria casa condenados
degredo guerra pensamento censurado
um país grande em história
por décadas adiado
bravo foi o grito que soou
o sonho que chegou
“25 de Abril de 1974”
o meu país em festa
pontapé na guerra chuto nas masmorras
Portugal livre nas palavras
meu país velhinho a nascer de novo
os cravos eram as flores
a liberdade a esperança nova
Portugal respirava cantava renascia
a Europa aplaudia o mundo ansiava
o colonialismo acabava
hoje evocando aquela data
só lamento
o tempo perdido
as vidas ceifadas
a Pátria adiada para nada!O poema faz parte de uma coletânea de poemas com o título "PORTUGAL PERIFÉRICO OU...O CENTRO DO MUNDO?", que pode ser visto e consultado no link da Editora:
http://www.bubok.pt/libros/2158/PORTUGAL-PERIFERICO-OUO-CENTRO-DO-MUNDO -------------------------------------------------------------------------------------------------------
Um testemunho singelo de uma mulher portuguesa, então bem jovem, que acompanhou o seu marido em terras de África, mais propriamente na Guiné-Bissau, no cumprimento do serviço militar obrigatório. Aqui fica:
ABRIL,25,1974,GUINÉ-BISSAU
Com o aproximar de mais um dia 25 de Abril, e agora por razões diferentes, vou tentar fazer uma retrospectiva do que vivenciei nessa data, tirando as possíveis conclusões.Muitas vezes me perguntaram: onde estavas no 25 de Abril ???Aí eu respondia: em Bissau...
E é mesmo verdade. Já lá vão muitos anos, é certo, mas há "feelings" que jamais esqueceremos...
Pois esse 25 de Abril amanheceu para nós, como de costume... (pensávamos)
De manhã, como habitualmente, após ter deixado a filha, bem pequenina por sinal, no infantário, de ter dito até logo ao meu marido, alferes miliciano no cumprimento do serviço militar obrigatório, fui a pé para a escola. Sentia qualquer "coisa" estranha no ar...movimentação fora do comum, helicópteros num vai vem, um zum zum que não entendia. Quando cheguei à escola fiquei a saber que algo se tinha passado em Lisboa, mas nada de concreto se sabia. Dei inicio à aula e passado algum tempo veio a directora da Escola Gago Coutinho, onde leccionava, dizer-me que havia acontecido alguma coisa politica em Lisboa. Fiquei assustada, o que fazer? Preocupada por nós e pela nossa família que estava em Lisboa.
De um momento para o outro fiquei só com dois alunos, os outros, vinte e tal, tinham fugido.
Liguei para o meu marido, foi-me buscar à escola e fomos os três para casa.
Rádio sempre ligado, noticias poucas, emissões estrangeiras... meu Deus... helicópteros....e finalmente lá mais para a tarde soubemos que tinha havido uma Revolta...sim....mas pacifica....com cravos vermelhos....que finalmente a Guerra acabava....que um novo Portugal ia nascer!!!!
Cantámos, pulámos de alegria....a música na rádio era sobretudo do saudoso José Afonso (Zeca Afonso) noticias, mais noticias, canções....enfim....LIBERDADE....
“Era tempo de emalar a trouxa e zarpar “ como cantava Zeca Afonso.
Era o fim de uma ditadura que durara tempo sem fim. Que atrasara o país, que o isolara da Europa e do mundo.
Agora, tantos anos já passados, estou por um lado, com um misto de Alegria por tantas conquistas que os Portugueses alcançaram, que se traduziram numa melhoria de vida, por outro com um enorme receio de que possamos regredir....
Quero ser positiva...acredito mesmo que o nosso Povo não vai deixar que lhe tirem o que de BOM ABRIL nos deu.
MA/Lisboa/2012
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Nosso comentárioGrato pelo testemunho recebido evocando um momento singelo algures em Bissau, 1974. Deu para emocionar um pouco...
O 25 de Abril de 1974, que tem amanhã aniversário, não é uma data qualquer. Daí o título do poema supra: "Antes e depois". Para quem não conheceu o Portugal de antes do 25 de Abril de 1974, eu dir-lhes-ia apenas isto, em comparação com o Portugal que se seguiu: comparem uma prisão com um jardim...estarão próximos das duas realidades.
Por isso mesmo, dado que se vivem atualmente tempos complicados, com arrufos de extremismos de direita por essa Europa fora: veja-se o "killer" da Noruega, a votação da francesa Srª Pen, o governo holandês com participação da extrema direita, agora frustrado, etc. que mais se aproximam do "ANTES" da instauração das "LIBERDADES e DEMOCRACIA", que do "DEPOIS"...
Pelo que, apelo a todos para que se tenha cuidado.
Que pelo menos tratemos bem PORTUGAL, este país maravilhoso que eu coloco, sem qualquer favor, na geopolítica universal, no CENTRO DO MUNDO!!!
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Fiquem bem,
António Esperança Pereira
http://nucleo.netlucro.com/clique/13276/556/
http://www.bubok.pt/afiliados/tienda/93
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Nosso comentário: Apenas meia dúzia de palavras para introduzir uns "versinhos" que fiz a mais um 25 de Abril, neste ano de 2016.Na altura, 1974, eu não estava cá, ou seja em Portugal, pois encontrava-me destacado no cumprimento do serviço...
Bem interessante a notícia que hoje se destaca, embora o assunto não seja novo. Todavia, para um povo que foi levado à descrença em si próprio por dezenas de anos de atraso, ditadura, isolamento, pessimismo, triste fado, esta notícia pode constituir...
Título de livro: "GUINÉ-BISSAU 1974" Não versa política mas sim sociologia: fica-se a conhecer melhor um povo e um território que durante séculos foi colónia portuguesa. Após 1974, com a revolução dos cravos em Portugal, a sua independência...
Este poema faz parte do livro actualmente mais requisitado pelos leitores: "PORTUGAL PERIFÉRICO OU...O CENTRO DO MUNDO?" que pode ser visto em: http://lusito.bubok.pt Sinceramente tenho como opinião que todo o Português com um P grande devia ler alguns...
Dias longos nostalgia espelhada em cada rosto português uma amargura que ainda hoje se vê nos filhos dos filhos daquele tempo que na flor da idade iam para a guerra longe sem saberem bem para onde nem para quê o horizonte europeu fronteira de Castela...