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Fragmento Absurdo de Uma Existência Futura n°2 – A Vagina e o Extrato de Tomate
Me acordei-me com os gritos irritantes de uma mulher sendo estuprada bem na calçada da rua, na frente da minha casa. Tenho o mau-hábito de chamar de casa o porão bolorento e empesteado em que vivo. Fui ver quem era. Funkeiros de merda. Não estava sendo estuprada, era a maneira estúpida daquela puta dar. Como já eram seis da tarde, decidi levantar e ir ao supermercado comprar bebidas, cigarros e algumas porcarias enlatadas e empacotadas baratas.
“Fodam essa vadia longe daqui!”, gritei pra aqueles bostas, enquanto dava um coice na bunda imunda de um deles e fechava o portão enferrujado, úmido e pegajoso. Mais um dia de chuva ácida. Por isso moro no porão, não há perigo de haver furos no teto causados pelo ácido da chuva. E se a casa desabar, o que é bem provável com as enchentes sem fim dos últimos meses, o porão ainda permanecerá quase que intacto, comigo e com os ratos, baratas e mosquitos. Antes também convivia com sapos, eram os mais simpáticos, mas desapareceram. Devem ter sido vítimas de algum tipo de poluição ou radiação. Certa vez li que os anfíbios eram facilmente afetados pela radiação ultravioleta do sol. Deve ser verdade.
Cheguei ao mercado já de noite, com os pés embarrados. Disseram-me que eu deveria limpá-los, esfregá-los em um tapete imundo num canto da entrada. Mandei que tomassem no cu, queria sair dali logo e voltar para o meu porão ouvir Penderecki. E tudo teria corrido bem, teria feito minhas compras estúpidas numa boa, como sempre faço, não fosse aquela cena absolutamente imbecil e nojenta que fui obrigado a observar, que me deixou ainda mais mal-humorado.
Uma velha que devia ter mais de 80 anos, mais feia que uma bruxa sifilítica, não por ser velha, mas por ser feia mesmo, de repente, rindo como um palhaço idiota, tirou toda a roupa, inclusive suas calcinhas grudentas, abriu as pernas raquíticas e tapadas de feridas e começou a enfiar em sua vagina um vidro de extrato de tomate. Sei lá o que ela pretendia, devia estar se masturbando. Todos os outros no mercado observavam com ar de curiosidade e satisfação. Eu apenas sentia nojo.
Mas a velha apertou com tanta força aquele vidro de extrato de tomate que ele se quebrou no meio de sua vagina e os cacos cortaram aquilo que deveria ser seu clitóris. E uma mistura de sangue e extrato de tomate escorreu até o chão. Nisso, um gorducho enlouquecido com uma camiseta com aquelas ridículas propagandas de cerveja, que surgiu não sei de onde, se atirou entre as pernas da velha e começou a lamber e a chupar aquele asqueroso líquido vermelho que escorria. As expressões de prazer, tanto da velha quanto do gordo, deram-me náuseas. E olhem que sou forte de estômago, acostumado que sou a comer entre os esgotos. Creio que a velha teve um orgasmo.
Alguém, um bosta, é claro, mas que não havia percebido antes, filmava aquela cena maldita e berrava que iria postá-la na internet, com o que todos concordavam, guinchando como jaguaras sarnentos. Passaram-se alguns minutos, a velha se levantou, sempre rindo, com as pernas abertas, pingando uma gosma avermelhada e voltou a fazer compras, pelada. O gorducho abriu um vidro de pepinos em conserva, empinou e bebeu todo o líquido, balbuciando que gostava de água de pepino em conserva com extrato de tomate, enquanto tirava para fora seu pênis e se masturbava.
E ninguém deu mais bola pra tudo aquilo, voltaram pra suas compras, e, como se fossem múmias, nem mais falaram uma palavra sequer sobre o “show com molho”. Estavam todos acostumados, somente eu ficara repugnado. Merda, ainda sou um sensível. Ah, que se foda, pensei. Peguei minhas garrafas de conhaque bagaceira, minhas carteiras de cigarro barato e minha merda de comida e voltei pra casa sem pagar nada. Quando estava na saída do supermercado, o gorducho que havia chupado a velha gritou: “não vai pagar, seu sem-vergonha?” Ele era o segurança do mercado. Mandei aquele filho da puta à puta que pariu. E foi minha mais profunda filosofia de toda aquela semana.
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