Textos e Mensagens
RABISCOS DE NOVOS NATAIS
.Hélio Cunha, Em Nome do Filho
..Todos os dias se levantava à mesma hora. Deixava-se envolver pelo jacto de água fria, fazia a barba, preparava um café instantâneo e comia uma fatia de pão barrada com planta. Depois, cuidadosamente, pegava nos anúncios de jornal, já devidamente sublinhados, e mergulhava no purgatório, quantas vezes inferno, do lado negro da vida.
O seu currículo era ele próprio, o parco dinheiro não era NOS nem MEO, era seu. Medido ao cêntimo, diga-se, habituado que estava ao senhor Negaleva. Mas insistia.
Por mais que se esforçasse, por mais que sorrisse, a filosofia Negaleva parecia a verdade suprema, tatuada nos mil rostos da urbe, sonâmbulos sem qualquer causa, a não ser a sobrevivência. E, quase sem se dar conta, começou a soçobrar, a render-se a evidências, prescritas em receitas, por quem vive para lá do muro. A culpa era sua, diziam, e começava a acreditar.
Num fim de tarde, já quase sem fôlego, refugiou-se nas escadas dum qualquer centro comercial. Não via nada, não ouvia, apenas lhe batia à porta o desespero, a vontade de desistir. Ainda tentou esbracejar, invocando as palavras de Torga...
De seguro,Posso apenas dizer que havia um muroE que foi contra ele que arremetiA vida inteira.Não, nunca o contornei.Nunca tenteiUltrapassá-lo de qualquer maneira.A honra era lutarSem esperança de vencer.E lutei ferozmente noite e dia,Apesar de saberQue quanto mais lutava mais perdiaE mais funda sentiaA dor de me perder....mas a dor era demasiado funda, a dignidade esvaía-se.
De repente, rompendo as densas camadas de nevoeiro que o envolviam, uma voz delicada, despida de artifícios, fez-se ouvir:
- Mãe, aquele senhor parece perdido. Não vês?
As palavras podem ter múltiplas facetas, mil e um rostos, mas naquele momento, para ele, eram as palavras certas. Levantou-se, sorriu para o miúdo e piscou-lhe o olho. Depois, com gestos cuidados, sacudiu o pó das calças, ajeitou o casaco e seguiu. Tal como dizia o poeta, a honra era lutar, mesmo com pouca esperança de vencer.
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O Meu 33º Assassinato (parte 6)
Matei-o alguns meses depois do início de nossa “amizade”. Necessitei de uma paciência de Jó para suportar todo esse tempo fingindo concordar com todas suas baboseiras intelectualizadas. Aconteceu em uma noite sem lua, como quase todos os meus assassinatos....
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ZÉ Lobo
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Acerca Dos Humores Do Vento
. Hélio Cunha, Premonição da Morte de Ícaro. . . O velho esperava-o junto da fogueira. Saudou-o, respeitosamente, e aguardou que o mandasse sentar. Quando o ancião lhe fez um leve sinal, clareou a voz e, entre algumas hesitações, acabou por...
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Respirares Da Lua Nova - 3
..Aproximou-se do centro da praça. O dia tinha sido intenso, a plantação de novos legumes mobilizara toda o acampamento. Ana sentia-se um pouco cansada, uma sensação comum a todos, mas era um cansaço agradável, de quem se sentia bem com a vida....
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Respirares Da Lua Nova - 1
. .Aldeia da Luz, AlentejoPegou na bilha de água turva, acenou aos guardas e rumou ao acampamento. Sentia-se suja, a carecer de um banho, mas as antigas rotinas eram agora um luxo. Umas gotas no rosto, outro tanto nos sovacos, e já estava no limite....
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